sábado, 4 de maio de 2013

Conceitos básicos em Análise Crítica do Discurso

O texto abaixo é parte do artigo ANÁLISE CRÍTICA DO DISCURSO  UMA PROPOSTA PARA A ANÁLISE CRÍTICA  DA LINGUAGEM elaborado por Cleide Emília Faye Pedrosa (UFS) disponível integralmente na internet  no endereço http://www.filologia.org.br/ixcnlf/3/04.htm. Como o meu propósito é trazer alguns conceitos básicos, segue abaixo, o fragmento que trata da questão.
 
"Conceitos básicos
Os conceitos apontados, neste tópico, serão abordados resumidamente, devido a natureza do estudo.

Discurso

Esse termo corresponde mais ou menos às dimensões textuais que, tradicionalmente, têm sido tratadas por “conteúdos”, “significados ideacionais”, “tópico”, “assunto” etc.

Há uma boa razão para usar “discurso” em vez desses termos tradicionais: um discurso é um modo particular de construir um assunto, e o conceito difere de seus predecessores por enfatizar que esses conteúdos ou assuntos – áreas de conhecimento – somente entram nos textos na forma mediada de construções particulares dos mesmos (FAIRCLOUGH, 2001: 64, destaque do autor).

A relação entre discurso e estrutura social tem natureza dialética, resultando do contraponto entre a determinação do discurso e sua construção social. No primeiro caso, o discurso é reflexo de uma realidade mais profunda, no segundo, ele é representado, de forma idealizada, como fonte social. A constituição discursiva de uma sociedade decorre de uma prática social que está, seguramente, arraigada em estruturas sociais concretas (materiais), e, necessariamente, é orientada para elas, não de um jogo livre de idéias na mente dos indivíduos.

Fairclough (2001) defende o discurso como prática política e ideológica. Como prática política, o discurso estabelece, mantém e transforma as relações de poder e as entidades coletivas em que existem tais relações. Como prática ideológica, o discurso constitui, naturaliza, mantém e também transforma os significados de mundo nas mais diversas posições das relações de poder.

Contexto

Trata-se de uma noção de relevância ímpar para ACD, “já que explicitamente inclui elementos sociopsicológicos, políticos e ideológicos e, portanto, postula um procedimento interdisciplinar” (MEYER, 2003: 37). Os discursos são históricos e, destarte, só podem ser entendidos se em referência a seus contextos (FAIRCLOUGH, 2003).

Sujeito

Para Fairclough (2001), os sujeitos podem contrapor e, de forma progressiva, reestruturar a dominação e as formações mediante a prática, isto é, os sujeitos sociais são moldados pelas práticas discursivas, mas também são capazes de remodelar e reestruturar essas práticas. Na ACD, rejeita-se firmemente o ‘sujeito assujeitado’ da Análise do Discurso (AD).

Identidade

A identidade tem a ver com a origem social, gênero, classe, atitudes, crenças de um falante, e é expressa a partir das formas lingüísticas e dos significados que esse falante seleciona, passando-se à maneira como o produtor de um texto (editor) retextualiza a fala de um locutor, atribuindo-se uma identidade e outra para esse locutor.

Intertextualidade e interdiscursividade

As categorias intertextualidade e a interdiscursividade são bastante exploradas pela ACD, pois ela analisa as relações de um texto ou um discurso, considerando outros que lhe são recorrentes. É apropriado lembrar, aqui, o posicionamento de Bakhtin (2000) de os textos “respondem” a textos anteriores e, também, antecipam textos posteriores.

Crítica, ideologia e poder

As noções de crítica, ideologia e poder são básicas para a ACD. Entende-se a crítica, segundo Wodak, como o resultado de certa distância dos dados, considerados na perspectiva social e mediante uma atitude política e centrada na autocrítica. Já ideologia é um termo utilizado para indicar o estabelecimento e conservação de relações desiguais de poder. Ele “se refere às formas e aos processos sociais em cujo seio, e por cujo meio, circulam as formas simbólicas no mundo social” (WODAK, 2003: 30, tradução nossa). Por isso, a ACD indica, como um de seus objetivos, a desmitificação dos discursos por meio da decifração da ideologia.

A linguagem classifica o poder e expressa poder. Esse poder se manifesta segundo os usos que as pessoas fazem da linguagem e suas competências para tanto. Ele pode ser, em alguns casos, negociado ou mesmo disputado, pois é rara a ocasião em que um texto é obra de uma pessoa só. Ressalta Wodak:

Nos textos, as diferenças discursivas se negociam. Estão regidas por diferenças de poder que se encontram, por sua vez, parcialmente codificadas no discurso e determinadas por ele e pela variedade discursiva. Como conseqüência, os textos são com freqüência arenas de combate que mostram as pistas dos discursos e das ideologias encontradas que contenderam e batalharam pelo predomínio (WODAK, 2003: 31, tradução nossa).

É bom entendermos que o poder não se origina da linguagem. Entretanto, é possível, na linguagem, valer-se do próprio poder para desafiá-lo ou, mesmo, subvertê-lo, alterando-lhe as distribuições em curto ou longo prazo. O poder não somente se efetiva no interior do texto, através das formas gramaticais, mas, também, no controle que uma pessoa é capaz de exercer sobre uma situação social, através do texto (WODAK, 2003)."

 

domingo, 14 de abril de 2013

Curso de Redação

Um curso que pode ser útil aos que têm dificuldade em interpretar e escrever.

Estão abertas as inscrições para o curso de Redação e Interpretação do Gabinete Português de Leitura (GPL), com carga horária de 20 horas. As aulas, com início previsto para o dia 24 de abril, será às quartas e quintas-feiras, das 18h30 às 20h, na sede do GPL (Praça da Piedade), em Salvador. O investimento é de 200 reais. Ministrado pelo professor doutor Thiago Martins Prado, o curso vai abordar interpretação de textos (literários ou informativos), estratégias de abordagem de questões de concursos públicos, produção de textos, indicações de aspectos vocabulares e estilísticos para a prática redatora, estudo de modelos de escrita de acordo com a tipologia textual conveniente, além de argumentação de forma clara, coesa e coerente segundo padrão dissertativo. Mais informações pelo telefone (71) 3329-2733 ou site www.gplsalvador.com.br.

Fonte: http://atarde.uol.com.br/bahia/salvador/materias/1496813-gabinete-portugues-inscreve-para-curso-de-redacao

Avaliação

Na aula anterior, propus que a produção textual fosse enviada por e-mail dentro dos prazos estabelecidos. No entanto, repensando este momento, achei por bem manter o tipo de avaliação, mas alterando a forma de entregar os trabalhos, deixando a atividade para ser feita em sala de aula.

Portanto, o calendário das avaliações ficará da seguinte forma:
 
25 de maio - primeira versão do texto escrito;
08 de junho - segunda versão do mesmo texto escrito no dia 11;
06 de julho - terceira versão do mesmo texto;
 
Durante a produção, não haverá consulta a artigos inteiros, apenas aos fichamentos de citação com, no máximo, 10 linhas em fonte Times New Roman, 12.  
 
Caso o estudante tenha algum problema no dia, entrar com requerimento dentro do prazo estabelecido pelo Regimento, solicitando segunda chamada que será no formato prova.

O que será solicitado de vocês?

O objetivo da disciplina é proporcionar momentos de leitura e de produção textual (oral e escrita). A produção oral ocorre durante as discussões em sala de aula, por isso é importante que vocês expressem a leitura de vocês. A parte escrita será feita através de exercícios realizados em sala (maioria das vezes) ou em casa e a avaliação em sala. Os assuntos a serem tratados são:

1. Gêneros textuais - conceito e função;
2. Relações de gênero - papeis sociais desempenhados por mulheres e homens na sociedade;
3. A linguagem como discurso: discurso, intertextualidade, ideologia, contexto, metáfora, performance, opacidade x transparência.

Programa da disciplina PLPT

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO
PRÁTICA DE LEITURA E DE PRODUÇÃO DE TEXTO

Ementa
Fundamentos teóricos das práticas de leitura. Constituição do sujeito leitor/autor. Diversidade dos gêneros textuais. Alternativas metodológicas para a formação do leitor e do produtor de textos.

Objetivos
a) Conhecer e aplicar os fundamentos teóricos de leitura;
b) Analisar textos a partir do conceito de gêneros textuais;
c) Elaborar textos de diferentes gêneros textuais;

Conteúdo
1-Conceitos de: linguagem, texto, leitura, leitor.
2-Processo cognitivo da leitura.
3-Concepções de leitura subjacentes a práticas escolares.
4-Tipos de textos e modos de leitura.
5-Intertextualidade: paródia e paráfrase.
6-Coerência e coesão textuais.
7-Tratamento didático das produções textuais.
8-Funções da linguagem.

Carga horária
04 semanais

Bibliografia básica e complementar

CHALUB, Samira. Funções da linguagem. São Paulo: Ática, 1990.
FÁVERO, Leonor. Coesão e coerência textuais. São Paulo: Ática, 1991.
KLEIMAN, Ângela. Oficina de leitura: teoria e prática. Campinas, SP: Pontes, Editora da Universidade Estadual de Campinas, 1996.
KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2006.
ORLANDI, E.P. Discurso e leitura. Campinas, SP: Cortez Editora, 1988.
MEC/SEF. Projeto Pró-leitura na formação do professor. Brasília, 1998.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

A Linguagem, Marilena Chauí

O fragmento abaixo, extraído do livro Introdução à Filosofia, de Marilena Chauí, nos leva a refletir sobre a importância da linguagem para o sujeito. Eu o escolhi para as disciplinas Prática de Leitura e de Produção de Texto (PEDAGOGIA) e Leitura  e Prática de Produção Textual (CIÊNCIAS CONTÁBEIS):
A importância da linguagem

Na abertura da sua obra Política, Aristóteles afirma que somente o homem é um “animal político”, isto é, social e cívico, porque somente ele é dotado de linguagem. Os outros animais, escreve Aristóteles, possuem voz (phone) e com ela exprimem dor e prazer, mas o homem possui a palavra (logos) e, com ela, exprime o bom e o mau, o justo e o injusto. Exprimir e possuir em comum esses valores é o que torna possível a vida social e política e, dela, somente os homens são capazes.

Segue a mesma linha o raciocínio de Rousseau no primeiro capítulo do Ensaio sobre a origem das línguas:

A palavra distingue os homens dos animais; a linguagem distingue as nações entre si. Não se sabe de onde é um homem antes que ele tenha falado.

Escrevendo sobre a teoria da linguagem, o lingüista Hjelmslev afirma que “a linguagem é inseparável do homem, segue-o em todos os seus atos”, sendo “o instrumento graças ao qual o homem modela seu pensamento, seus sentimentos, suas emoções, seus esforços, sua vontade e seus atos, o instrumento graças ao qual ele influencia e é influenciado, a base mais profunda da sociedade humana.”

Prosseguindo em sua apreciação sobre a importância da linguagem, Rousseau considera que a linguagem nasce de uma profunda necessidade de comunicação:

Desde que um homem foi reconhecido por outro como um ser sensível, pensante e semelhante a si próprio, o desejo e a necessidade de comunicar-lhe seus sentimentos e pensamentos fizeram-no buscar meios para isso.

Gestos e vozes, na busca da expressão e da comunicação, fizeram surgir a linguagem.

Por seu turno, Hjelmslev afirma que a linguagem é “o recurso último e indispensável do homem, seu refúgio nas horas solitárias em que o espírito luta contra a existência, e quando o conflito se resolve no monólogo do poeta e na meditação do pensador.”

A linguagem, diz ele, está sempre à nossa volta, sempre pronta a envolver nossos pensamentos e sentimentos, acompanhando-nos em toda a nossa vida. Ela não é um simples acompanhamento do pensamento, “mas sim um fio profundamente tecido na trama do pensamento”, é “o tesouro da memória e a consciência vigilante transmitida de geração a geração”.

A linguagem é, assim, a forma propriamente humana da comunicação, da relação com o mundo e com os outros, da vida social e política, do pensamento e das artes.

No entanto, no diálogo Fedro, Platão dizia que a linguagem é um pharmakon. Esta palavra grega, que em português se traduz por poção, possui três sentidos principais: remédio, veneno e cosmético.

Ou seja, Platão considerava que a linguagem pode ser um medicamento ou um remédio para o conhecimento, pois, pelo diálogo e pela comunicação, conseguimos descobrir nossa ignorância e aprender com os outros. Pode, porém, ser um veneno quando, pela sedução das palavras, nos faz aceitar, fascinados, o que vimos ou lemos, sem que indaguemos se tais palavras são verdadeiras ou falsas. Enfim, a linguagem pode ser cosmético, maquiagem ou máscara para dissimular ou ocultar a verdade sob as palavras. A linguagem pode ser conhecimento-comunicação, mas também pode ser encantamento-sedução.
Com base no texto acima, vamos pensar nos nossos atos de fala, nas formas de dizer, de comunicar, de significar. Os enunciados abaixo, por exemplo, cumprem uma mesma função?