Para Bakhtin, a linguagem inscreve o sujeito na historia ou melhor o enunciado na história. Falar da historicidade do enunciado é já colocá-lo em uma dimensão espaço-temporal, como uma realização dinâmica e única, porque irrepetível. É situar o enunciado como produto situacional, fruto das relações interativas e, por isso, das relações de poder, de forças.
Deste modo, ao trazer o filme como gênero textual de grande circulação e interação entre o público adolescente e jovem, estamos nos referindo a um produto textual que busca inventar-se e inventar este público. Afinal, o que define um adolescente? E um jovem? O que se convencionou chamar de "coisa de jovem" ou "assunto que interessa o adolescente"? Além disso, convém também atentar para o que se destina às jovens e aos jovens. Até mesmo no cinema, os gêneros comédia-romântica e drama são tidos como do gosto feminino, enquanto que a ação, o terror, o policial são gêneros que agradam aos homens. Mas isso está inscrito no sexo ou é uma direção, regulagem da cultura?
Em Encantadora de Baleias, vimos que o poder estava tão arraigado na cultura patriarcal que ninguém duvidava que o homem, na figura do pai e do primogênito, seria responsável pelo destino da comunidade. A voz erigida em oposição ao poder patriarcal, na figura de uma menina, não negava a cultura, mas a dissociava do poder exclusivo do macho.
Hoje, durante a aula, quando falava de como o corpo da mulher era representado, um dos alunos falou que o corpo masculino também era modelado: eram altos, brancos, etc. De fato, há uma transversalidade racial na observação do aluno, o que considero pertinente. Observo ainda que os homens são fortes porque o que se deseja passar não é apenas uma estética, mas vincular o corpo musculoso ao poder da força física. Em relação à mulher, não há qualquer função em exibi-la da forma que conhecemos, senão apenas para erotizá-la. Para que serve um corpo magro, cintura de vespa, seios sobressalientes e moldados e quadril em destaque (além de salto alto!) se elas estão em combate? Se a arma da mulher é o corpo, então ele já está fetichizado pelo olhar masculino. O fetiche é um objeto dotado de prazer erótico, por isso o corpo da mulher é visto como objeto de fetiche no cinema para um olho voyeur masculino, era o que defendia Laura Mulvey, crítica feminista psicanalítica.
Na próxima semana, vamos debater o filme Branca de Neve e o Caçador. Observem:
a) A representação dos personagens masculinos e femininos e mostrem as relações de poder entre eles;
b) As relações de poder entre o casal protagonista. As cenas e situações em que eles aparecem juntos;
c) Como vocês analisam o discurso de Ravenna, a madrasta, na noite de núpcias. Em que tom ela enuncia?
d) Qual a relação entre a beleza, a mulher e a juventude? Qual o discurso do filme em relação a essa tríade?
e) Como o cinema trabalha com essa tríade? Como essa tríade regula a vida das mulheres?
Alguns aspectos para vocês pensarem, mas podem trazer outras questões para o debate.
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